O governador Sérgio Cabral confirmou neste domingo que as comunidades de Manguinhos e Jacarezinho ganharão UPPs. Segundo ele, o processo de pacificação não é efêmero.
“Essa é uma ação de pacificação, não é efêmera. Teremos UPPs em Manguinhos, Mandela, Varginha, e Jacarezinho em seguida. Como são comunidades muito próximas, mas diferentes, a gente ocupa todas elas e vai fazer uma estratégia de inauguração de UPPs, um processo muito criterioso da Secretaria de Segurança Pública, de avaliação da estabilidade da comunidade”, disse.
Cabral revelou ainda que a presença policial é definitiva nas comunidades. “É uma ação que tem um processo definitivo de presença das forças de segurança. Hoje não é o inicio, é o fim da primeira etapa, de um processo que se iniciou com ações nas outras comunidades”, afirmou.
Ocupação levou 20 minutos
A Secretaria de Estado de Segurança confirmou neste domingo que os complexos de Manguinhos e Jacarezinho já estão sob o controle das polícias Militar e Civil.
As duas comunidades, alvos da Operação Pacificação Manguinhos, foram recuperadas pelas forças policiais, com apoio dos Fuzileiros Navais e efetivos da Polícia Rodoviária Federal (PRF), sem encontrar resistência, o que permitiu o domínio dos dois territórios em apenas 20 minutos.
“A ocupação foi bem tranquila, como a gente já imaginava. A população ainda tem muito receio de conversar e fornecer informações, mas acredito que com o tempo vamos conseguir estabelecer uma relação. Dependemos da população para chegarmos às informações”, afirmou o comandante do Bope, coronel René Alonso.
Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e fuzileiros navais se concentraram para a incursão no Centro de Farmácia da Marinha, em Benfica. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, chegou à base por volta das 4h e se reuniu com a tropa. Os militares fazem buscas em vielas e percorrem o território das comunidades. Homens do Bope usam retroescavadeiras para destruir barricadas montadas por traficantes.
Houve troca de tiros na chegada da Polícia Civil ao Jacarezinho, mas não há registro de feridos.
A ação abre caminho para a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A previsão é que a primeira fase da ocupação dure até o fim do ano, quando a sede da unidade deverá ser inaugurada.
Dominada pela facção criminosa Comando Vermelho (CV) há décadas, a área se tornou uma das mais perigosas do Rio, devido aos intensos confrontos armados. As favelas do Mandela e Varginha, vizinhas dos complexos, também são ocupadas.
Um desafio para a cidade
Manguinhos e Jacarezinho representam grande desafio. Por ali, passam algumas das mais importantes vias da Zona Norte, como as avenidas Democráticos, Dom Hélder Câmara e Leopoldo Bulhões. Esta última ficou conhecida como “Faixa de Gaza”, por conta dos confrontos entre a polícia e os traficantes.
Durante os últimos anos, estes acessos foram constantemente alvos de ladrões para atacar motoristas e pedestres. Outra grande preocupação da Secretaria de Segurança é que Manguinhos e Jacarezinho viraram um dos principais entrepostos de drogas do Comando Vermelho.
O comércio de entorpecentes gerou o surgimento de cracolândias em vários pontos das comunidades, alvos constantes das operações policiais e das secretarias de Assistência Social do estado e do município, que encaminham os viciados para abrigos.
Sede da UPP será instalada até o fim do ano
A comunidade deve receber a sede da unidade até o fim do ano. Outras bases avançadas serão erguidas no Jacarezinho e Mandela, em 2013, além de policiamento na comunidade Varginha, fechando o cerco da polícia naquela região.
Outro importante projeto também vai contribuir para a pacificação dos bairros vizinhos aos conjuntos de favelas: a inauguração da Cidade da Polícia, no Jacarezinho, prevista para ocorrer em abril.
O complexo abrigará 32 delegacias especializadas da Polícia Civil em dez prédios, além de centros de instrução com favela cenográfica e estande de tiros, canil e carceragem para presos. O projeto custou R$ 40 milhões e por lá devem circular cerca de três mil agentes.
Em entrevista ao DIA, no final de 2011, o secretário José Mariano Beltrame deixou claro que, mesmo com a Cidade da Polícia em funcionamento, a região necessita de uma UPP.
“São áreas muito grandes. Para policiar uma região assim, só colocando os policiais lá dentro”, afirmou.
Moradores deixam suas casas
Os moradores, por sua vez, demonstravam um misto de euforia e preocupação. Várias famílias, com medo de tiroteios, deixaram a região para se abrigar em casas de amigos e parentes.
“Não vejo a hora de a polícia acabar com esse domínio dos traficantes. Cansei de ser extorquido, dando dinheiro, cerveja e outras mercadorias para esses bandidos sanguinários fazerem festas em bailes funk”, desabafou um comerciante do Jacarezinho, que pediu para não ser identificado.
“Não vou pagar para ver (se haverá confronto ou não)”, gritou uma mulher, com seus três filhos pequenos, para um vizinho. Muitos traficantes também teriam deixado as comunidades os últimos dias.
Core testa ‘blindadinho’ para operação em becos
Para garantir a segurança de milhares de cariocas, turistas e atletas, durante os grandes competições esportivas que o Rio vai sediar até 2016, a Polícia Civil criou o Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos, grupo liderado pela Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat). O planejamento inclui uma série de investimentos em recursos humanos e tecnológicos, estimados em R$ 45 milhões. Os policiais terão blindado que entra em becos e robô que sobe escada e ‘enxerga’ no escuro para checar denúncia de bombas.
A menina dos olhos da instituição é a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). A tropa de elite da Polícia Civil vai receber a maior fatia de investimentos, para compra de equipamentos — como carros blindados para operações —, e capacitação de agentes.
No mês passado, a Core testou um veículo americano, o Sandcat. O ‘caveirinha’, que deverá ser adquirido pela Secretaria de Segurança Pública, pesa cinco toneladas, é mais compacto e permite maior mobilidade à ação em becos e vielas. Além disso, é capaz de transportar com conforto e segurança oito policiais.
“É mais leve, tem mais mobilidade e recebeu blindagem especial para suportar tiros de fuzil”, contou um policial. Parte dos R$ 45 milhões será usada na compra de novos fuzis; equipamentos de visão noturna; armamento não-letal e de apetrechos de proteção e marítimos.
Esquadrão ANTI-BOMBA
A lista de aquisições da Core inclui carro-comando, para transportar os equipamentos, e câmeras e programas de computador que permitem ao operador passar informações para os agentes em campo. Para o Esquadrão Antibombas, está programada a compra de robô com visão noturna, que sobe escada e entra em ambientes fechados para checar suspeita de bomba.
Aeronaves que captam imagens pelo calor
O Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos concentra oito delegacias especializadas, com apoio da Coordenadoria de Inteligência. Foi criado para maximizar ações e integrar delegacias a órgãos públicos, para dar suporte às ações e investigações. Estão envolvidas a Guarda Municipal, Secretaria de Ordem Pública e a Polícia Militar.
Os representantes das entidades se reúnem semanalmente para analisar e difundir às delegacias e órgãos competentes as informações sobre cada evento.
Além de aprofundar o entrosamento entre os órgãos, o estado negocia a compra de mais aeronaves para o Serviço Aeropolicial da Polícia Civil.
Além de helicópteros iguais aos já usados — com câmeras que registram imagens nas favelas —, a Secretaria de Segurança quer mais aeronaves blindadas e com aparelhos modernos de navegação e de captação de imagens pelo calor dos corpos.
Os agentes já fazem intercâmbios com polícias de outros estados. Quarta, policiais da Core concluíram treino com a Polícia Federal. Aprenderam técnicas de combate de alto risco em favelas, sobre mergulho, explosivos e antiterrorismo. A Cidade da Polícia, que será erguida no Jacarezinho, terá simulador de tiros.