Um grupo de policiais civis faz um protesto na Avenida Marechal Câmara, na altura do prédio da Defensoria Pública, no Centro do Rio, na tarde desta quinta-feira (29). A informação foi confirmada pelo 5º BPM (Praça da Harmonia). Mais cedo, o grupo já havia caminhado pela Avenida República do Chile, também no Centro.
Segundo o Centro de Operações da prefeitura da cidade, devido à manifestação, uma faixa da avenida está interditada. O tráfego está intenso e com retenção.
De acordo com o Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro (SINPOL), a categoria reivindica melhores salários e condições de trabalho. O sindicato também acrescentou que os agentes protestam para que tenham um hospital da própria corporação e plano de saúde.
Segundo a Polícia Militar, os agentes estavam desde as 10h concentrados em frente ao prédio da Chefia da Polícia Civil, na Rua da Relação, também no Centro. Três viaturas da PM acompanham o protesto, que segue pacífico
PIOR SALÁRIO DO BRASIL
O Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro deflagra nesta quinta-feira um movimento inédito na história da Polícia Civil, que em 2009 completou 200 anos. Pela primeira vez os agentes pretendem cumprir a lei para que as autoridades percebam que a atividade deles é realmente importante e que precisa de atenção urgente. O movimento está sendo chamado de "Cumpra-se a lei". A principal lei desrespeitada no dia-a-dia de uma delegacia de polícia no Rio é aquela que determina que as ocorrências policiais devem ser apreciadas por um delegado de polícia antes de serem registradas. Na prática, o delegado só toma conhecimento após o registro do fato. Como o estado tem apenas 500 delegados, o movimento deve afetar a rotina das delegacias e afunilar o atendimento, levando transtornos para quem precisar recorrer à uma delegacia de polícia.
Os policiais também devem se recusar a dirigir carros ostensivos porque não são capacitados para conduzir esse tipo de veículo, conforme a determinação do Conselho Nacional de Trânsito. Isso pode parar os carros da Polícia Civil. Outro desrespeito à lei é o fato de que nenhum carro da polícia é vistoriado pelo Detran e, por isso, não tem CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos). Os policiais também não vão tomar depoimentos de vítimas ou pessoas envolvidas na ocorrência, sem a presença de um delegado. Eles alegam que assim como um hospital não pode funcionar sem médico, uma delegacia de polícia também não pode abrir sem delegado.
O presidente do Sindicato dos Policiais, Carlos Gadelha, me disse agora há pouco que objetivo não é prejudicar o cidadão mas criar uma nova cultura na polícia, que deve dar exemplo e ser a primeira a cumprir as leis. Gadelha acredita que o movimento terá hoje a adesão de 70% dos 9.270 agentes da Polícia Civil do Rio. Em virtude do movimento, a Chefia de Polícia Civil já pediu até aos delegados titulares que estejam prontos para trabalhar em regime de 24 horas nos próximos dois dias. O mais curioso desse movimento é que uma das principais reivindicações deveria ser a de toda a sociedade. Os policiais querem trabalhar todo dia, como qualquer cidadão, deixando apenas uma equipe no plantão de 24 por 72 horas (um dia de trabalho e três de folga). O plano de carreira que eles propõem já tem pareceres favoráveis da Chefia da Polícia e da Secretaria de Segurança Públicar. Falta agora o estado abrir o cofre. Segundo eles, a execução desse plano precisaria de R$ 26 milhões, menos de 0,3% do orçamento do estado.
- Os policais querem trabalhar todo dia e receber um salário decente com um plano de carreira digno. Imagine se os policiais da Divisão de Homicídios, que investigam o assassinato da juíza Patrícia Acioli tivessem trabalhado nesse regime de 24 horas por 72? Jamais teriam esclarecido o caso até hoje -- observa Gadelha.
Outra característica interessante desse movimento é qe o Sindicato dos Policiais Civis não é mais aquele velho covil de pelegos, mas tem gente experiente e apaixonada pela atividade profissional. O próprio presidente, Carlos Gadelha, tem nove anos de polícia e já efetuou várias prisões de traficantes na equipe de investigações da 13ª DP (Copacabana). O diretor jurídico do sindicato, Francisco Chao, por exemplo, pertencia à equipe que em 2002 prendeu Elias Maluco, um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, num dos maiores cercos a um criminoso, na história da polícia. Os líderes do movimento estão empenhados em quebrar paradigmas e contribuir para o surgimento de uma nova polícia, mais bem capacitada, equipada e com melhores salários. Eles reivindicam piso salarial de R$ 3.500. Segundo Gadelha, atualmente o salário inicial de um agente da Polícia Civil no Rio é de R$ 1.500, o pior do Brasil.
-- Nós estamos fazendo esse movimento agora para termos uma polícia melhor para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas de 2016. Não estamos deixando para fazer nada às vésperas desses grandes eventos. Não queremos botar a faca no pescoço de ninguém, nem ser oportunistas -- diz Gadelha, que está disposto a dialogar com a cúpula da Polícia Civil e da Secretaria de Segurança.
Às 13h, os policiais civis saem da Chefia da Polícia Civil, na Rua da Relação, numa marcha -- a Passeata da Legalidade -- que vai comunicar os princípios do movimento à OAB, Defensoria Pública e Ministério Público estadual. A concentração será às 11h. Os policiais estão sendo convidados também a dor sangue no HemoRio, a partir das 8h. Antes da Passeata, os policiais receberão alimentos não perecíveis para doar a comunidades pobres.
Quem, por acaso, não tiver boa vontade com o movimento dos policiais, deve lembrar que em nenhum lugar do mundo se faz boa polícia sem gastar dinheiro.
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