sexta-feira, 30 de setembro de 2011

POLICIAIS CIVIS FAZEM PROTESTO NO RIO



Um grupo de policiais civis faz um protesto na Avenida Marechal Câmara, na altura do prédio da Defensoria Pública, no Centro do Rio, na tarde desta quinta-feira (29). A informação foi confirmada pelo 5º BPM (Praça da Harmonia). Mais cedo, o grupo já havia caminhado pela Avenida República do Chile, também no Centro.

Segundo o Centro de Operações da prefeitura da cidade, devido à manifestação, uma faixa da avenida está interditada. O tráfego está intenso e com retenção.

De acordo com o Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro (SINPOL), a categoria reivindica melhores salários e condições de trabalho. O sindicato também acrescentou que os agentes protestam para que tenham um hospital da própria corporação e plano de saúde.

Segundo a Polícia Militar, os agentes estavam desde as 10h concentrados em frente ao prédio da Chefia da Polícia Civil, na Rua da Relação, também no Centro. Três viaturas da PM acompanham o protesto, que segue pacífico

PIOR SALÁRIO DO BRASIL

O Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro deflagra nesta quinta-feira um movimento inédito na história da Polícia Civil, que em 2009 completou 200 anos. Pela primeira vez os agentes pretendem cumprir a lei para que as autoridades percebam que a atividade deles é realmente importante e que precisa de atenção urgente. O movimento está sendo chamado de "Cumpra-se a lei". A principal lei desrespeitada no dia-a-dia de uma delegacia de polícia no Rio é aquela que determina que as ocorrências policiais devem ser apreciadas por um delegado de polícia antes de serem registradas. Na prática, o delegado só toma conhecimento após o registro do fato. Como o estado tem apenas 500 delegados, o movimento deve afetar a rotina das delegacias e afunilar o atendimento, levando transtornos para quem precisar recorrer à uma delegacia de polícia.

Os policiais também devem se recusar a dirigir carros ostensivos porque não são capacitados para conduzir esse tipo de veículo, conforme a determinação do Conselho Nacional de Trânsito. Isso pode parar os carros da Polícia Civil. Outro desrespeito à lei é o fato de que nenhum carro da polícia é vistoriado pelo Detran e, por isso, não tem CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos). Os policiais também não vão tomar depoimentos de vítimas ou pessoas envolvidas na ocorrência, sem a presença de um delegado. Eles alegam que assim como um hospital não pode funcionar sem médico, uma delegacia de polícia também não pode abrir sem delegado.

O presidente do Sindicato dos Policiais, Carlos Gadelha, me disse agora há pouco que objetivo não é prejudicar o cidadão mas criar uma nova cultura na polícia, que deve dar exemplo e ser a primeira a cumprir as leis. Gadelha acredita que o movimento terá hoje a adesão de 70% dos 9.270 agentes da Polícia Civil do Rio. Em virtude do movimento, a Chefia de Polícia Civil já pediu até aos delegados titulares que estejam prontos para trabalhar em regime de 24 horas nos próximos dois dias. O mais curioso desse movimento é que uma das principais reivindicações deveria ser a de toda a sociedade. Os policiais querem trabalhar todo dia, como qualquer cidadão, deixando apenas uma equipe no plantão de 24 por 72 horas (um dia de trabalho e três de folga). O plano de carreira que eles propõem já tem pareceres favoráveis da Chefia da Polícia e da Secretaria de Segurança Públicar. Falta agora o estado abrir o cofre. Segundo eles, a execução desse plano precisaria de R$ 26 milhões, menos de 0,3% do orçamento do estado.

- Os policais querem trabalhar todo dia e receber um salário decente com um plano de carreira digno. Imagine se os policiais da Divisão de Homicídios, que investigam o assassinato da juíza Patrícia Acioli tivessem trabalhado nesse regime de 24 horas por 72? Jamais teriam esclarecido o caso até hoje -- observa Gadelha.

Outra característica interessante desse movimento é qe o Sindicato dos Policiais Civis não é mais aquele velho covil de pelegos, mas tem gente experiente e apaixonada pela atividade profissional. O próprio presidente, Carlos Gadelha, tem nove anos de polícia e já efetuou várias prisões de traficantes na equipe de investigações da 13ª DP (Copacabana). O diretor jurídico do sindicato, Francisco Chao, por exemplo, pertencia à equipe que em 2002 prendeu Elias Maluco, um dos assassinos do jornalista Tim Lopes, num dos maiores cercos a um criminoso, na história da polícia. Os líderes do movimento estão empenhados em quebrar paradigmas e contribuir para o surgimento de uma nova polícia, mais bem capacitada, equipada e com melhores salários. Eles reivindicam piso salarial de R$ 3.500. Segundo Gadelha, atualmente o salário inicial de um agente da Polícia Civil no Rio é de R$ 1.500, o pior do Brasil.

-- Nós estamos fazendo esse movimento agora para termos uma polícia melhor para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas de 2016. Não estamos deixando para fazer nada às vésperas desses grandes eventos. Não queremos botar a faca no pescoço de ninguém, nem ser oportunistas -- diz Gadelha, que está disposto a dialogar com a cúpula da Polícia Civil e da Secretaria de Segurança.

Às 13h, os policiais civis saem da Chefia da Polícia Civil, na Rua da Relação, numa marcha -- a Passeata da Legalidade -- que vai comunicar os princípios do movimento à OAB, Defensoria Pública e Ministério Público estadual. A concentração será às 11h. Os policiais estão sendo convidados também a dor sangue no HemoRio, a partir das 8h. Antes da Passeata, os policiais receberão alimentos não perecíveis para doar a comunidades pobres.

Quem, por acaso, não tiver boa vontade com o movimento dos policiais, deve lembrar que em nenhum lugar do mundo se faz boa polícia sem gastar dinheiro.

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