Rio -  O governo do Rio minou a greve organizada por policiais civis e militares e bombeiros. 17 PMs foram presos, 10 deles através de mandados de prisão preventiva decretados pela juíza Juliana Ferraz, a pedido do comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro. Todos estão no presídio de Bangu 1. Outros 129 poderão ser punidos por envolvimento na greve. No Corpo de Bombeiros, um oficial acabou exonerado do cargo, e 123 guarda-vidas foram indiciados por falta ao serviço e ficarão presos administrativamente nos quartéis.
Para fechar o cerco aos militares grevistas, o governador Sérgio Cabral baixou decreto que reduz prazos das tramitações dos processos administrativos. Com isso, PMs e bombeiros podem ser expulsos da corporação em até 15 dias. “A greve não teve êxito”, avaliou Cabral, ressaltando o aumento concedido, na quinta-feira, de 38,81% até 2013. Líder dos bombeiros, o cabo Benevenuto Daciolo segue preso em Bangu 1. A libertação dele é reivindicação.

Policiais do Bope foram enviados para Campos, onde havia foco maior de insatisfação | Foto: Phillipe Moacyr / Folha da Manhã
Policiais do Bope foram enviados para Campos, onde havia foco maior de insatisfação | Foto: Phillipe Moacyr / Folha da Manhã
Nesta sexta-feira, a população pouco sentiu os efeitos da paralisação, e serviços foram mantidos, além da programação do Carnaval e da rodada do Cariocão. Só uma rede de cinemas cancelou sessões após 22h30 no Leblon e Tijuca. Embora nas ruas não houvesse falta de PMs, muitos fizeram espécie de greve na viatura: foram para seus postos, mas não atuaram.
A maior adesão foi no interior. Em Volta Redonda, seis PMs foram presos em flagrante e 129 responderão a inquérito por incitar à desobediência. Pena varia de 2 a 4 anos de prisão.
Sessenta homens do Bope e do Batalhão de Choque foram acionados para Campos e Itaperuna, a fim de evitarem e combaterem atos violentos. Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o Rio ainda não precisa de reforço federal. Porém, 14 mil homens do Exército e da Força Nacional estão de prontidão. A Polícia Civil informou que o atendimento à população e as investigações não foram atingidos. Até o fechamento desta edição, um PM estava foragido da Justiça. Neste domingo, haverá manifestação, às 10h, em Copacabana.
Prazo para atuação do Conselho de Disciplina fica menor
Para permitir que PMs e bombeiros possam ser expulsos da corporação em até 15 dias, o governador Sérgio Cabral baixou nesta sexta-feira decreto, em edição extraordinária do Diário Oficial, apressando as punições. A nova regra modifica outro, de 1978, que regulamenta o Conselho de Disciplina dos militares, responsável pelas exclusões.
A nova diretriz reduz à metade — de 30 para 15 dias — o prazo a conclusão do trabalho do conselho. Quem faz a investigação só terá cinco dias para avaliar a conduta do militar: antes eram 20 dias. O tempo de recurso contra a decisão caiu para cinco dias. E o prazo para secretário de estado julgar esse recurso mudou de 20 para sete dias.
Outra novidade é que tanto o secretário de Defesa Civil, Sérgio Simões, quanto o comandante da PM, Erir Ribeiro, poderão pedir os procedimentos e dar solução diferente do conselho. Antes, o poder era exclusivo do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
Os grevistas estão sendo acusados de incitar à desobediência, à indisciplina ou prática de crime militar; publicar ou criticar indevidamente e desacatar a superior. As penas variam de dois a quatro meses de prisão. Em 2009, Superior Tribunal Federal também decidiu que servidor público armado — caso de policiais e bombeiros, por exemplo — não pode fazer greve.
As primeiras horas da greve
A procura da população por delegacias das zonas Sul, Norte e Oeste do Rio, além da da Baixada, foi menor do que o normal. De madrugada, O DIA percorreu as linhas Vermelha e Amarela, além da Avenida Brasil, e não encontrou viatura da PM em patrulhamento. As cabines de vigilância estavam vazias. De dia, unidades chegaram a fixar em portas aviso de paralisação das atividades. O trabalho dos bombeiros nos postos de salvamento da orla foi reduzido por causa do movimento grevista.

Homem chega para fazer registro na 16ª DP (Barra) e fica na porta | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
 Homem chega para fazer registro na 16ª DP (Barra) e fica na porta | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia


16ª DP, BARRA
Cartaz fixado na porta avisava sobre a greve. “Greve. Atendimento somente para casos de prisão em flagrante e remoção de cadáveres, segundo normas do sindicato”, informava o folheto na Barra da Tijuca.
14ª DP, LEBLON
Policiais militares tentavam verificar a ficha criminal de um grupo detido em atitude suspeita na praia. Depois de cinco horas de espera, os PMs liberaram os jovens sem fazer o levantamento.
13ª DP, COPACABANA
A ordem era a mesma: só ocorrências emergenciais seriam registradas
ZONA NORTE
O trabalho em delegacias da Zona Norte também foi afetado. Na 22º DP (Penha), por exemplo, comerciante tentou registrar ocorrência de furto mas foi surpreendido por um policial que disse para “voltar depois da greve”. Cristiano Pereira, 25, teve seu celular e documentos furtados no ônibus da linha 350.

BAIXADA FLUMINENSE
A recepção e a sala de registros de ocorrências das delegacias passaram parte do dia vazias. Na porta da 52ª DP (Nova Iguaçu), as viaturas estacionadas estavam com panfletos, informando sobre a greve, presos nos párabrisas.

SALVAMENTO NA ORLA
Segundo bombeiros de plantão na Zona Sul, apenas 30% dos salva-vidas estavam em serviço. Eles trabalharam ontem sem uniforme. Muitos postos estavam vazios.
Socorro chega rápido
Um motociclista foi baleado nas costas em assalto, às 15h desta sexta-feira, na Rua Beatriz Larragoiti Lucas, no Estácio. Em poucos minutos, policiais do 1º BPM (Estácio) chegaram para socorrer Alexandre Freitas Esquerdo, 39. Ele foi operado no Hospital Souza Aguiar, no Centro. Não há informação sobre seu estado de saúde. A dupla fugiu com o veículo, recuperado pouco depois. Ninguém foi preso.

Baleado recebeu socorro de PMs que chegaram rápido ao local do crime, no Estácio | Foto: João Laet / Agência O Dia
Baleado recebeu socorro de PMs que chegaram rápido ao local do crime, no Estácio | Foto: João Laet / Agência O Dia
Enquanto isso, ainda de madrugada, as cantoras Watusi e Glória Laraújo sofreram um assalto, na Avenida Brasil, altura de Bonsucesso. Elas voltavam da escola de samba Beija-Flor, em Nilópolis, na Baixada.
De acordo com Watusi, quando elas chegaram à 21ª DP (Bonsucesso) para dar queixa do roubo, não havia policial na delegacia. Elas seguiram, então, para Copacabana, onde foram atendidas na 13ª DP. “Havia dois policiais trabalhando que tiveram muito boa vontade”, contou Watusi.
Métodos de terrorismo
Para o jurista e professor Wálter Fanganiello Maierovitch, o movimento grevista faz parte de uma conjuntura histórica do Brasil, onde tudo se tolera. “É o país do quebra-galho e isso preocupa muito, na medida em que lideranças usam métodos de terrorismo, ameaçam queimar carretas, fechar rodovias. Por outro lado, não há amparo jurídico para colocar o Exército nas ruas sem a decretação do Estado de Defesa ou de Sítio”.
Reportagens de Adriana Cruz, Angélica Fernandes, Diogo Dias, Gabriela Moreira, Flávia Lima, Flávio Araújo, Helvio Lessa, Marcello Victor e Vania Cunha